terça-feira, 14 de agosto de 2018

Novas Estratégias para o Saneamento Ambiental III




Os dados apresentados nas postagens anteriores, nos levam a acreditar que a solução dos problemas relacionados com o meio ambiente, de uma maneira geral, e do saneamento básico, em particular, nos países em desenvolvimento, se encontra longe de ser alcançada.

As caraterísticas das políticas, medidas institucionais, de financiamento e de condução do processo de desenvolvimento do sistema como um todo, repetem os vícios e erros do passado e apresentam um horizonte cada vez mais difícil de ser superado.

Os Planos Municipais de Saneamento Básico

No caso do Brasil, a Lei do Saneamento Básico determinava que Planos Municipais de Saneamento Básico (PMSB), deveriam ser entregues até o mês de dezembro de 2013.

Todas as expectativas sobre este tema, entretanto, indicam que tal disposição não deverá ser cumprida tão cedo. A última data estabelecida para os municípios entregarem o documento em questão, é a de 31 de dezembro de 2019.

O PMSB é um instrumento importante que serve como diagnóstico do estado em que se encontra o saneamento do município, permitindo verificar as deficiências e necessidades existentes neste campo. Com isso, é possível planejar metas para o estabelecimento e acesso aos serviços por parte da população, bem como quantificar os recursos financeiros e outros, necessários para o desenvolvimento dos programas, planos e projetos.

Um ponto de destaque do PMSB é que ele engloba não somente as áreas urbanas, mas também as áreas rurais, adensadas e dispersas, que geralmente possuem índices muito pequenos de acesso ao saneamento e merecem estudos e soluções técnicas e de financiamento diferenciadas.

Outros aspectos essenciais do plano, é que ele deve interagir com outros instrumentos e planos setoriais existentes, tais como o Plano Diretor do Município, devendo, ademais, propiciar a participação da comunidade.

De acordo com o Instituto Trata Brasil, a participação da sociedade é fundamental para conhecer os cenários e principalmente para discutir sobre prazos e tarifas dos serviços.

O Instituto também destaca que um plano bem executado é capaz de promover a segurança hídrica, prevenir doenças, reduzir as desigualdades sociais, preservar o meio ambiente, reduzir acidentes ambientais e desenvolver economicamente o município.

Por outro lado, porém, encontramos que um levantamento realizado em agosto de 2017, mostrava que apenas 30% das cidades haviam elaborado o plano e outros 37% afirmavam estar em andamento.

Os principais entraves para a elaboração do plano

As maiores dificuldades relatadas pelos municípios, principalmente de pequeno porte, para à elaboração do PMSB são:

1 – Dificuldades financeiras
2 – Qualificação técnica e profissional
3 – Vontade política
4 – Metodologia do plano
5 – Integração das áreas de saneamento com a gestão pública

A dificuldade financeira é colocada como o principal entrave. Os municípios menores afirmam carecer de recursos para a elaboração do plano.

A qualificação técnica e profissional também é colocada como um obstáculo para a elaboração do plano de saneamento, já que os pequenos municípios não contam com um corpo técnico suficiente e adequado. 

Isso se conecta diretamente com a própria metodologia para elaboração do plano, que apresenta uma complexidade técnica muito grande.

A essa situação podemos acrescentar outros problemas relacionados com a gestão dos recursos a disposição dos municípios brasileiros:

Cerca de 70% dos municípios brasileiros dependem de mais de 80% das verbas que vêm de fontes externas à arrecadação de seus próprios impostos e taxas, principalmente, do governo federal.

Mesmo assim, as prefeituras aumentaram em 53%, em média, o total de funcionários em seus quadros na última década. No período, a população cresceu apenas 12%.

Por outro lado, três entre cada quatro municípios do Brasil (76%) não são eficientes no uso dos recursos disponíveis para as áreas básicas de saúde, educação e saneamento, segundo os critérios e análises dos resultados do Ranking de Eficiência Municipal - REM-F elaborado recentemente pelo instituto de pesquisa Data Folha.

Embora especialistas concordem com a queixa dos prefeitos a respeito do aumento de suas responsabilidades na Constituição de 1988, há uma avaliação desfavorável e negativa em relação à qualidade dos gastos do município.

Pela Constituição, os municípios são obrigados a gastar 15% de sua receita na saúde e 25% na educação.

"A gestão dos recursos é péssima, com malversação e corrupção", diz Naercio Menezes, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper. "Poderíamos melhorar muito a educação, mesmo sem mais recursos."

O médico Gustavo Gusso, professor da USP e especialista em atenção básica, opina que "a falta de foco e a busca de votos" são os maiores problemas em sua área.

Segundo ele, os investimentos que os prefeitos fazem são proporcionalmente maiores nos níveis secundário (especialidades) e terciário (hospitais complexos) do que no primário (prevenção).

"Muitas vezes o prefeito não tem condição, mas constrói um hospital onde não faz direito nem o atendimento secundário nem o primário. São elefantes brancos, com equipamentos errados na cidade errada para pacientes errados no lugar errado. É um clássico."

Há, por tanto, um grave cenário de ineficiência operacional e de gestão, em geral, no que se refere aos serviços de abastecimento de água e coleta de esgotos do país, tanto por parte das administrações municipais, como das concessionárias ou Companhias de Saneamento que não escapam, também, de críticas severas sobre a eficiência e qualidade de seus serviços.

Consideramos, então, necessário, que se dê um novo enfoque à estratégia agora vigente para o desenvolvimento dos planos e programas de universalização dos serviços. E, nesse aspecto, os governos federal, estadual e municipal não podem deixar de considerar uma maior participação da iniciativa privada nas diferentes etapas do desenvolvimento de planos, programas e projetos dos serviços, incluindo aí, a presença na própria gestão e operação dos serviços, nas diversas formas e modelos existentes em outros países e no próprio país.

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