sexta-feira, 22 de julho de 2016

O SISTEMA DE ASSISTENCIA TÉCNICA DAS COMPANHIAS DE SANEAMENTO – SATECIA III.



 

O Diagnóstico Institucional - Resultados

 

Antecedentes. –

 

Como temos enfatizado através das postagem anteriores, os trabalhos relacionados com o Programa SATECIA para o desenvolvimento institucional das Companhias de Saneamento do Brasil, tinham como objetivo último e fundamental, o fortalecimento destas entidades em termos operacionais, de gestão administrativa, financeira, comercial e técnica, visando capacitá-las para cumprir com a sua responsabilidade de proporcionar à população do País, os serviços de saneamento básico, notadamente, de água e esgoto sanitário, de qualidade e de forma universal e permanente.

Em um segundo plano, o SATECIA tinha outro objetivo importante: a de implantar nas empresas uma cultura de caráter empresarial na prestação dos serviços, bem como de uma atitude favorável à mudança a través do estabelecimento de políticas e estruturas formais e informais que permitissem o comprometimento e a participação dos níveis dirigentes e de todos os funcionários da empresa, num esforço coletivo de cooperação e proposição de ações dirigidas a melhoria operacional e de seu desempenho, no cumprimento de seus fins.

Também explicamos que o processo estava fundamentado na teoria dos sistemas como base de sustentação das ações de intervenção na organização das empresas, uma visão novedosa ou, de outra forma, inovadora, diferente das atividades de assistência técnica comumente utilizadas na época. Uma metodologia ou enfoque dirigido à empresa como um todo, como um sistema integral e integrado, e não para resolver problemas e situações críticas pontuais, tipo, determinadas funções, departamentos ou projetos específicos.

Sobre toda essa organização e seu modus operandi, falaremos mais na frente.

Finalmente, identificamos as etapas seguidas na execução do programa correspondente: diagnóstico, avaliação de resultados, modelagem e implantação de modelos.

Sobre os resultados da etapa de diagnóstico

Não contamos, infelizmente, com registros dos resultados específicos obtidos nas Companhias diagnosticadas em termos de indicadores de desempenho ou dados numéricos confiáveis, mas podemos detalhar diversas condições gerais encontradas no que se refere ao funcionamento de sua estrutura administrativa e operacional, que nos deram uma visão clara, poderíamos dizer, uma fotografia fiel da situação existente nestas entidades e que, certamente, demonstraram uma situação institucional precária.

Em outras palavras, empresas desorganizadas, com um grau enorme de ineficiência, desperdício, estruturas orgânicas inadequadas, falta de recursos e outras mazelas e problemas, não poderiam prestar serviços adequados para a população, nem enfrentar satisfatoriamente, a missão de ampliar e universalizar os serviços sob sua responsabilidade.

Vejamos alguns dos aspectos e problemas encontrados a que nos referimos:

Planejamento, como visão de longo prazo do desenvolvimento da empresa e dos serviços, não existia.

Um trabalho neste sentido, denominado Estudo de Viabilidade Global - EVG foi exigido às companhias como documento obrigatório, para disciplinar e sustentar o planejamento financeiro do SFS e permitir o acompanhamento e avaliação dos resultados em nível de cada Estado e do País.

O trabalho, na nossa opinião, não chegou a cumprir sua finalidade de maneira cabal, precisamente, pela fraqueza institucional do setor como um todo e, em particular, das companhias.

As Empesas, ainda as mais desenvolvidas e melhor aparelhadas tecnicamente, assim como, com uma certa organização institucional mais sólida, não tinham planos de longo prazo. Não contavam nem com metodologia, nem com a estrutura necessária nem, finalmente, com recursos humanos preparados para a preparação destes instrumentos.

Não era possível assim realizar analises de projeção da demanda a curto, médio e longo prazos, bem como de cálculo e estudos tarifários com critérios técnicos para o estabelecimento dos parâmetros necessários para a determinação das necessidades de recursos de toda ordem: financeiros, econômicos, tecnológicos, materiais, humanos e outros e, muito menos, os prazos para o atingimento das metas de cobertura dos serviços até a sua universalização, manutenção e crescimento permanente.

Muitas das companhias não contavam nem sequer com planos de curto prazo ou orçamento anual. Seu sistema financeiro se limitava à contabilidade geral com caraterísticas simples, tradicionais, típicas de órgão público, de caixa, sem condições de apurar custos de operação e gestão em geral, por exemplo.

A contabilidade se encontrava em, praticamente, todas as companhias, em estado de atraso quanto a preparação e emissão de resultados e balanços e com informações inconsistentes e pouco confiáveis.

No campo comercial, as maiores deficiências encontradas foram, em primeiro lugar, no instrumento mais importante para a operação das atividades e funções do sistema: o cadastro de consumidores. Em condições de funcionamento pouco confiáveis, como resultado de uma desatualização das informações e de uma estrutura de dados de identificação das conexões e usuários, limitada e pouco representativa do universo dos clientes da empresa, não era possível determinar seu faturamento real e, com prejuízo, por conseguinte, da arrecadação.

Outra carência importante encontrada no diagnóstico do setor comercial, se apresentava no campo da medição de consumos, com um índice muito baixo e sem representatividade em relação com o tipo de consumo. Com efeito, muitas vezes, industrias e negócios comerciais e outros serviços importantes, não estavam adequadamente registrados no cadastro e, por conseguinte, não eram corretamente faturados.

A denominada dívida pendente era muito elevada e sem políticas efetivas de corte dos serviços diante a falta de pagamento.

O atendimento aos novos pedidos de serviço, bem como das reclamações dos consumidores apresentava-se, de igual forma, muito ineficiente, por falta de uma relação coordenada e eficaz com o setor operacional.

No setor operacional, as companhias não contavam com programas de manutenção preventiva. Os cortes de serviço por falhas de operação e problemas recorrentes de defeitos nas instalações, pressionavam de maneira constante a deficiente estrutura das áreas responsáveis.

Os sistemas administrativos de apoio como o de suprimentos, compras e distribuição de materiais e equipamentos, tinham estruturas extremadamente ineficientes, sem sistemáticas de reposição de estoques, políticas de compras e normas de controle de estoques.

Os estoques de materiais eram altos, incluindo os de materiais obsoletos, o que sobrecarregava os inventários, balanços e demonstrativos financeiros das companhias.

Esse era, a grosso modo, algumas das condições encontradas nas companhias de saneamento do Brasil no campo da gestão administrativa e operacional.

Fazendo, entretanto, uma análise mais ampla quanto ao resultado geral de uma empresa nas condições apresentadas, poderíamos apontar o seguinte resultado:

Alto grau de endividamento, principalmente, com o SFS e, em segundo plano, com empreiteiros e fornecedores.

Desequilíbrio econômico financeiro envolvendo o alto grau de endividamento com uma baixa capacidade de arrecadação e recuperação de seus investimentos.

.

Sistemas de saneamento deficitários por falta de uma análise de viabilidade econômica financeira e correspondente definição tarifária ou complementação de recursos públicos.

Ausência, quase total, de políticas de investimento e, de uma forma geral, de gestão dos recursos financeiros, materiais, humanos técnicos e outros.

Carência- de arcabouço institucional, quer dizer, de normas, regulamentos, processos internos e de um instrumental técnico administrativo.

Tudo isso, devido à herança proveniente de estruturas e organização das entidades de origem no âmbito basicamente público.

Em outras palavras, as companhias eram a mais perfeita tradução de uma antítese administrativa. Eram entidades onde as etapas que identificam os processos conhecidos como formando parte do conceito de administração, como concebido por Frederik Taylor e Henry Fayol, quer dizer, de planejamento, organização, execução e controle, eram completamente falhos.

Existiam exceções naturalmente.

Enquanto isso, a própria estrutura do SFS, o órgão reitor do PLANASA, se apresentava, de igual forma, totalmente insatisfatória para o cumprimento de seu papel no sentido de acompanhar, avaliar, orientar e promover o avanço do PLANASA, no âmbito estadual e nacional.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário