sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Novas Estratégias para o Saneamento Ambiental II



Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a falta de saneamento básico põe em risco a vida de 2,6 bilhões de pessoas.

 “No mundo hoje, são mais de 15 milhões de mortes por ano decorrentes de doenças infecciosas”, declara David Heyman, Subdiretor-Geral da OMS para as doenças transmissíveis.

Dados preliminares do Segundo Relatório das Nações Unidas sobre os recursos hídricos do mundo – informam, que cerca de 2,4 bilhões de pessoas, não tem condições básicas de saneamento, o que multiplica o número de mortes por causas evitáveis como diarreia e malária.

Estudo coordenado pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura) e elaborado por 24 agencias da ONU incluindo o – Programa de Nações Unidas para o Desenvolvimento -PENUD, governos e organizações não-governamentais, afirma que “a gestão ineficiente, recursos limitados e mudanças climáticas” constituem os principais obstáculos para o mundo alcançar a sustentabilidade ambiental, um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), até 2015.

Uma das metas é a de reduzir pela metade a proporção da população do planeta sem acesso a água potável. De acordo com o relatório, atualmente 1,1 bilhão de pessoas no mundo, o equivalente a um quinto da população mundial, ainda não possuem serviço de água potável e 40% não tem condições sanitárias básicas.

A ONU estabeleceu o período de 2005 a 2015 como a Década Internacional para a Ação “Água para a Vida”, com metas ambiciosas para resolver o problema em nível mundial. Para tanto, a Organização Mundial de Saúde – OMS – concluiu que, para atingir os objetivos da Década, seria necessário a aplicação de, ao menos, US$ 11,3 bilhões / ano, durante o período indicado.

Com a aplicação de um montante de recursos dessa ordem, se estima que, até o final da Década, um bilhão e meio de pessoas se beneficiaria com acesso aos serviços de água potável e saneamento básico, ou seja, 100 milhões por ano e 274 mil por dia.

O Problema no Brasil

O Plano Nacional de Saneamento - PLANASA, foi implantado pelo Banco Nacional da Habitação do Brasil - BNH, no ano de 1971. O censo de 1970 mostrou que, naquele momento, apenas 26,7 milhões de brasileiros, ou 50,4% da população urbana, eram abastecidos com água potável e que 10,1 milhões, equivalente a 20%, estavam conectados à rede de esgotamento sanitário.

Quinze anos depois - em 1985 - a Pesquisa Nacional de Domicílios do IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – informou, que a cobertura com abastecimento de água tinha atingido 82,8 milhões de usuários, o equivalente a 87% da população urbana. Quer dizer que, o PLANASA, nesse período, beneficiou mais de 56 milhões de pessoas com serviço de abastecimento de água, - número maior que a população da França na época.

Desde então, passados mais de trinta anos, o acesso a rede de abastecimento de água com canalização interna chegou, em 2015, a 170.055 milhões de pessoas, 83,6 % da população, existindo ainda, 34 milhões de pessoas sem atendimento. Dessa forma, o setor, nesse espaço de tempo, só conseguiu acompanhar o crescimento vegetativo da população e, em termos porcentuais, até diminuiu.

Quanto ao esgotamento sanitário, os números nesse mesmo período, indicaram uma cobertura de pouco mais de 120 milhões pessoas, 63,1%, com conexão à rede coletora.

Investimento

O Brasil precisaria dobrar seus investimentos em saneamento básico para atingir a meta nacional nos próximos 15 anos. A previsão é de que serão necessários ao menos R$ 22,3 bilhões por ano até 2033.

As metas, definidas em 2013, preveem 223,1 milhões de pessoas atendidas pelo sistema de água —o que representaria um avanço de 34%— e 207,3 milhões com acesso a esgoto —praticamente o dobro da situação atual.

Neste momento, somente 51,92% da população têm acesso à coleta de esgoto. Mais de 100 Milhões de brasileiros continuam sem este serviço e mais de 3,5 milhões, nas 100 maiores cidades do país, despejam esgoto irregularmente, mesmo tendo redes coletoras disponíveis. Por outro lado, 91% dos esgotos gerados nas ocupações irregulares das 89 maiores cidades do Brasil não são coletados.

A população brasileira produz, em média, 8,4 bilhões de litros de esgoto por dia, sendo que desse total, 5,4 bilhões não recebem nenhum tipo de tratamento; ou seja, apenas um 36% do esgoto gerado nas cidades do país recebe algum tratamento. O restante é despejado sem nenhum cuidado no meio ambiente contaminando o solo, rios, mananciais e praias, sem contar os danos diretos que essa prática causa à saúde da população.

Tratamento Esgoto:

Fig. 1 - Somente 44,92% dos esgotos do país são tratados.


O secretário Nacional de Saneamento Ambiental, Alceu Segamarchi, admitiu que não será possível atingir a meta de levar as redes de abastecimento de água e coleta de esgoto a toda a população das cidades brasileiras até 2033. Essa era o principal compromisso estabelecido pelo Plano Nacional de Saneamento (Plansab), lançado pelo Ministério das Cidades, em 2013. 

Segundo o secretário, a crise dos últimos anos gerou instabilidades econômicas e políticas que inibiram a realização dos investimentos necessários para a expansão das redes. Agora, o governo está refazendo os cálculos para definir os novos prazos e aportes.

No seu lançamento, o Plansab previa investimentos de R$ 400 bilhões em 20 anos, isto é, o equivalente a aportes anuais de R$ 20 bilhões. Esse montante anual, porém, nunca foi alcançado. Em 2015, por exemplo, ficou abaixo de R$ 10 bilhões e hoje, os valores atualizados do plano, para viabilizar a meta, chegariam a cerca de R$ 500 bilhões, esticando o cumprimento das metas para ao menos 2040, de acordo com estudo divulgado pela Abdib.

Segamarchi acrescentou que a falta de governança de prefeituras e empresas estatais - entes que têm direito a acessar o dinheiro do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS – dificultam a liberação dos recursos aos projetos. "Apesar de existir esse dinheiro do FGTS com carência para pagamento, bom prazo e taxa baixa, ele não deixa de ser um empréstimo bancário. Em consequência, é exigido que o tomador apresente garantias e se encontre numa situação econômica e financeira regular: boa parte das prefeituras está com seu nível de endividamento estourado", observou.

Diante do panorama apresentado, onde fica evidente que o Brasil ocupa, se não o pior, um dos piores índices na prestação dos serviços de saneamento da América Latina, a perspectiva de solução do problema é, igualmente, a pior possível. Segundo Santiago Crespo, presidente da Abcon, as metas estabelecidas dificilmente serão cumpridas.

Reflexão obrigatória

É preciso e urgente que os governantes coloquem o problema de saneamento entre as prioridades a serem atendidas, a curto, médio e longo prazo considerando a intima relação com os gravíssimos problemas de saúde que enfrenta a população dos países do terceiro mundo.

Recentemente, o governo brasileiro criou um programa para dar atendimento e tratamento para a população afetada por problemas severos de parasitose em grandes contingentes da população.   Essa solução, já encontrada em outros países, está condenado ao fracasso, uma vez que se trata de uma medida meramente paliativa: o tratamento tem que ser repetido depois de um tempo, porque a origem de males como a malária, verminose, esquistossomose e outros, está, principalmente, na falta de água potável, esgoto sanitário, higiene e educação sanitária.

Ademais, existe um fator econômico importante a ser considerado na hora de tomar decisões sobre todos estes problemas relacionados com o saneamento. Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, por cada US$ 1, investido em saneamento, existe uma economia de US$ 4 em internações, medicação e outros tratamentos para as doenças provenientes da falta de abastecimento de água potável e esgotamento sanitário. Sem contar o custo pelo tempo perdido com ausências ao trabalho, escola e outras consequências.



As fotografias nos mostram uma realidade de milhões de brasileiros que moram em favelas em diversas regiões do país

Fontes
Estudo Saneamento em Áreas Irregulares nas Grandes Cidades Brasileiras – Trata Brasil 2016
Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS 2016)
Estudo Trata Brasil “Ociosidade das Redes de Esgoto – 2015”
Censo Escolar 2014


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